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Conto amoroso cotidiano

Conto amoroso cotidiano


Ele proferiu que a queria e de tão só, desejando amar, ela se compôs de alegria, permitindo-se sentir. Era tarde... Não tão tarde como pensava ser. Afinal, a natureza ensina que o entardecer é promessa de novo dia, certeza de amanhecer.

Ele confessou seu sonho, aspiração antiga de ser amado. Ela, entregue a uma carência definida que a consumia, pôs-se a vislumbrar histórias adormecidas. Ou seriam Estórias, dessas que não se encaixam com a realidade, escondendo-se na fantasias dos amantes, não desavisados, no entanto, desatentos.

Ele lhe afirmou que a amava... Ouvir tal melodia é como fertilizar plantas sem viço. A falta conduz à morte, o excesso entorpece, permitindo que o “vegetal” ofereça o melhor de si, extirpando toda sua força e beleza e, esgotado de tanto servir, encerre sua vida brevemente.

Ela se esqueceu dos dardos antigos que ainda lhe causavam dores. Resplandeceu! Entrega absoluta de si, perdeu-se no outro. Ouvia que a espera, mesmo que longa, era certa. Mimos, agrados, sorrisos... Alienação.

Ele no seu papel, descendente de homem, sensibilidade confusa por um momento também pensou ser dela o seu amor. Da maneira que seres amam desconhecendo à responsabilidade de se dizer ao outro o verbo amar. Conjugou em diversos tempos... Passado: “Sempre a amei, mesmo antes de lhe conhecer!” Presente: “Eu a amo mais que minha própria vida!” Futuro: “Amarei amor eterno e para sempre!” Como se possível fosse amar quem não se conhece. Como se o amor pudesse lhe pedir a vida(Que espécie de amor é esse que tem como recompensa à morte?). Como se em meio a milhares de pessoas o desejo não passasse a falar mais alto e, o amor pudesse ser partilhado em outro corpo. Quando os corpos se unem por desejo é o animal adormecido que comanda os sentidos. Que espécie de amor eterno é esse que necessita de outro corpo para satisfazer os desejos da carne?

Ela acreditou até aonde seus sentidos permitiram tamanha ausência de sentido e, o que era para ser belo, eterno, cúmplice, sublime... Transfigurou-se em cotidiana história. Ambos igualmente carentes. Tamanha falta de significação dominando e provocando o cérebro para encontrar-se novamente o raciocínio. Despertar é o verbo que transita... Escrito e descrito no gerúndio, despertando.

A espera longa e indefinida fragiliza sentimentos e nem ao menos se sabe que sentimentos foram. O sensato é dizer que não era amor!

Wanderlúcia Welerson Sott Meyer
Publicado no Recanto das Letras em 13/06/2011
Código do texto: T3031886

Comentários

Gratidão

Certezas de Amor

Estavas ali, sempre estivestes. Não era matéria palpável Nem ilusão temporária Fazia parte dos dias Desde sempre... Um alento nos momentos de dor Uma esperança de amor Visitava-me nos sonhos Acariciava-me o rosto Registrava-se a presença Partia... Permanecia a sensação do encontro Serenidade pretendida Essência de sentimentos duradouros Suavidade que se sente Tal brisa suave tocando o corpo Indivisível êxtase Emoções desejadas Puras, intensas Tradução apropriada de Amor!

Amor maduro

Será preciso tempo para regenerar as lesões provocadas pelo desvario dos sentimentos. Não é possível afirmar se era amor de fato. Serviu como alento enquanto próximo estava. Agora, que apreende e absorve palavras proferidas sem nenhum compromisso estreito com a verdade, analisando frases soltas e atitudes contraditórias, percebe-se claramente a ineficiência das palavras que não condizem com a verdade. Realidade tão intensa quanto a fugacidade dos anseios de porvir. Confia cegamente na maturidade que se adquire, grata pelo aprendizado rápido e eficaz de que o amor, de fato, só existe nos atropelos da convivência, no encontro dos desajustes, no sentir mesmo nas turbulências, na expressão de respeito pelo que se é. Constância inconstante de emoções indefinidas e necessárias. Amadurecimento vagaroso determinado por momentos de desordem interna e externa. Cumplicidade que se expressa apesar dos enigmas e contradições de seres opostos que jamais se completam, apenas evoluem entre possív

Caminhos dicotômicos

Não lhe diria verdades, nunca as conheci. Tampouco desfecharia os inúmeros sonhos inconclusos que permaneceram latentes enquanto pensávamos estar no caminho. Nunca saberíamos se as estradas que escolhemos e as trajetórias que fizemos foram realmente escolhas. De fato, pouco valeria lastimar e fazer conjecturas. Basta-me a realidade detectada pela pupila dos olhos teus e meus, sentida na pele como distante toque etéreo. Adormecida, enquanto em vigília presumes e anseias o que jamais viverás. Reformulas vontades, despertando sorrisos que se encontram longe de ser o que desejas. Não seria lamento, apenas dúvida, suspeita de equívocos... Desconfiança de que, se os caminhos não fossem bifurcados e dicotômicos, se os desejos não fossem imaturos, ainda estarias ao meu lado. Wanderlúcia Welerson Sott Meyer