Pular para o conteúdo principal

Amor e liberdade

      Até poderia dizer que hoje seria um dia comum como todos os outros, mas, essa visão não corresponde ao que se sente quando se percebe estar repetindo horas a fio o mesmo desejo, a mesma vontade e, de tanto se esbarrar em sentimentos parecidos, já não somos mais a mesma pessoa. Confuso? Diria que, confusa é a vida de quem se deixa conduzir pelos fatos e prossegue como cego surdo e mudo diante de tudo que sente, de tudo que vive.
            Poderia esquecer os anseios pedidos por quem grita dentro de mim, mas não quero! Seria injusto negar sentimentos que incomodam diariamente e me conformar. Não suporto conformismo, é como dizer a alguém que grita que se cale também aos gritos. Conformar-se tem o mesmo significado de deixar-se morrer em vida. Certo dia vi um homem embriago, sentado a beira de uma calçada, cabisbaixo e sem nenhuma consciência de mundo. Perguntei a o que estava acontecendo e ele me respondeu que o mundo girava e que estava esperando que sua casa passasse para que pudesse entrar. Engraçado? Não mesmo. Muitos de nós, mesmo que não alcoolizados, assim vivemos. Mantemos-nos com um ar de paisagem, esperando que a vida nos ofereça portas. Assim como o bêbado que para e se entrega as ilusões e devaneios, esperando a vida lhe conduza ao caminho desejado.
            Esse seria um dia comum de conformismos e aceitações se a alma, aquela que se rasga quando reprimida, não estivesse exausta de esperar e gritasse, bradando por liberdade. Uma liberdade que alimenta, que da vida, que motiva. Nada que infrinja ou que rompa o que é alheio, nada que não se importe com o mundo e pessoas a sua volta, tudo o que se quer é deixar-se alimentar pelo que determina o coração. Por que sempre temos que ser racionais e sufocar sentimentos? Por que não encontramos um meio termo e permitimos que o certo e o errado seja tão nosso quanto nossa própria alma? Nos disseram ser egoísmo aquilo que desejamos e que não vai de encontro com o desejo do outro, mas, também não seria ausência de amor próprio abdicar do que queremos em função de algo ou alguém que pensa estar agindo para o nosso bem? Que bem seria esse que trava nossos caminhos e nos faz senão embriagados, alheios as nossas próprias vontades e desejos?
Que bem nos faria alguém que não nos percebe e que somente sorri quando fazemos e dizemos aquilo que lhe convém?
            Quantas pessoas passam pela vida sem perceber que deixaram de ter vida própria para atenderem aos apelos de outros que juram querer o “melhor”. O “melhor” pra quem? Desde quando esquecer quem se é, abdicar de suas causas e sonhos é o melhor? Quantas pessoas que dizemos amar passam a ser nossos fantoches, manipulados pelo orgulho, pela empáfia que não nos permite perceber que podemos fazer morrer a quem mais amamos. Ofuscando-lhe o brilho, ocultando-lhe a beleza, roubando-lhe os sonhos.
            Ninguém pode viver sem seus próprios sonhos e caminhos! É quase vegetar deixar-se levar pela circunstâncias ou pelos desejos de alguém. Há muita mais para se oferecer quando somos capazes de fazer escolhas próprias. Não é transformando o outro no que queremos, não é modificando e moldando os sentimentos de alguém que lhe dizemos o quanto podemos amá-lo. Liberdade também é sinônimo de amor!
Wanderlúcia Welerson Sott Meyer
Publicado no Recanto das Letras em 26/06/2010
Código do texto: T2342010

Comentários

Gratidão

Certezas de Amor

Estavas ali, sempre estivestes. Não era matéria palpável Nem ilusão temporária Fazia parte dos dias Desde sempre... Um alento nos momentos de dor Uma esperança de amor Visitava-me nos sonhos Acariciava-me o rosto Registrava-se a presença Partia... Permanecia a sensação do encontro Serenidade pretendida Essência de sentimentos duradouros Suavidade que se sente Tal brisa suave tocando o corpo Indivisível êxtase Emoções desejadas Puras, intensas Tradução apropriada de Amor!

Amor maduro

Será preciso tempo para regenerar as lesões provocadas pelo desvario dos sentimentos. Não é possível afirmar se era amor de fato. Serviu como alento enquanto próximo estava. Agora, que apreende e absorve palavras proferidas sem nenhum compromisso estreito com a verdade, analisando frases soltas e atitudes contraditórias, percebe-se claramente a ineficiência das palavras que não condizem com a verdade. Realidade tão intensa quanto a fugacidade dos anseios de porvir. Confia cegamente na maturidade que se adquire, grata pelo aprendizado rápido e eficaz de que o amor, de fato, só existe nos atropelos da convivência, no encontro dos desajustes, no sentir mesmo nas turbulências, na expressão de respeito pelo que se é. Constância inconstante de emoções indefinidas e necessárias. Amadurecimento vagaroso determinado por momentos de desordem interna e externa. Cumplicidade que se expressa apesar dos enigmas e contradições de seres opostos que jamais se completam, apenas evoluem entre possív

Caminhos dicotômicos

Não lhe diria verdades, nunca as conheci. Tampouco desfecharia os inúmeros sonhos inconclusos que permaneceram latentes enquanto pensávamos estar no caminho. Nunca saberíamos se as estradas que escolhemos e as trajetórias que fizemos foram realmente escolhas. De fato, pouco valeria lastimar e fazer conjecturas. Basta-me a realidade detectada pela pupila dos olhos teus e meus, sentida na pele como distante toque etéreo. Adormecida, enquanto em vigília presumes e anseias o que jamais viverás. Reformulas vontades, despertando sorrisos que se encontram longe de ser o que desejas. Não seria lamento, apenas dúvida, suspeita de equívocos... Desconfiança de que, se os caminhos não fossem bifurcados e dicotômicos, se os desejos não fossem imaturos, ainda estarias ao meu lado. Wanderlúcia Welerson Sott Meyer