Observo meus
filhos adolescendo... Tenho a impressão que não foi há tanto tempo assim que
também vivenciei as questões que os afligem. Se considerarmos a vida como um
caminho de evolução contínua, realmente não foi. Ouço suas perguntas, procuro
responder o necessário e, quando excedo nas explicações, eles me alertam com um
“já entendi, mamãe”, lembrando-me que o entendimento caminha ao lado da
maturidade adquirida.
Os sonhos, as
ansiedades, o desejo de amor, a inconsistência dos sentimentos... Processo
natural de conflito que os conduz aos questionamentos e dúvidas necessárias. Passei
por todas essas etapas, ainda passo... mesmo que em proporções e possibilidades
diferenciadas, contudo adquiri com as experiências a consciência de que é
preciso manter a serenidade diante dos conflitos.
Lembro-me que,
nesse mesmo período de desenvolvimento, fui ter com uma amiga, conselheira e confidente,
já em adiantada idade, que me socorria sempre que as dúvidas assolavam minha
alma. Dona Ieda... Olhos de paz, voz suave, compreensão aguçada por
experiências de vida. Relatei minhas angústias, os sentimentos conflitantes, a
ansiedade natural de amar e ser amada, o futuro incerto, os planos de estudo e
trabalho que certamente já estavam traçados e eu os desconhecia. Disse-lhe de
minha afetividade sincera envolvida em um imediatismo gritante que provocava
desajustes em meu ser. Escutando-me silenciosamente ela sorria com os olhos e,
no desfecho de minha fala juvenil, argumentei com os olhos marejados d’água: “Acho
que (nessa época ainda achava, pois quem acha não tem certeza) não serei feliz
no amor...”; sorrindo, ela apenas disse: “Acalme-se querida, você terá um longo
caminho de aprendizado de amor.” Continuei: “Mas, quando saberei quando chegar?”
Acariciando minha face, enternecida pela inexperiência que me envolvia, ela
respondeu: “Siga o seu coração e consulte sua consciência... se você pensa
muito em alguém, certamente, essa pessoa também pensa em você.” Saí de lá
enternecida pelas sábias palavras e acalentada por um amor que ainda não
compreendia.
Hoje, vinte e
oito anos depois, consigo visualizar o sorriso de minha querida amiga, lembrança
de luz que me acompanha. Compreendo que o amor que tanto me afligia encontra-se
na serenidade que vou adquirindo. Descubro a expressão do amor de diferentes
formas: no colo que acolhe o filho, nas mãos que afagam, nos ouvidos que se
entregam à escuta, na renúncia que sustenta para que o caminho seja menos
tortuoso, no olhar que compadece, no trabalho voluntário, no amanhecer
oferecendo-me possibilidades de recomeço.
São tantas as possibilidades
de amor e tão singelas... Tão próximas e ao mesmo tempo, tão remotas. O
princípio descaracterizado por expressões de imaturidade nossa, torna-se o fim.
Não poderei
escolher e tão pouco viver por meus filhos. Venho lhes oferecendo a formação
básica para uma vida tranquila. Conceitos que acredito serem fundamentais para
o discernimento e escolha dos caminhos que seguirão: Amor a Deus, Amor próprio,
Amor ao próximo. Sentimentos que lhes fornecerão oportunidades de crescimento e
amadurecimento emocional e intelectual seguros. Contudo, sei que cada um
seguirá suas tendências e possibilidades... O certo é que procurarei estar ao
lado, em nome do amor que hoje reconheço. Sorrindo e chorando se necessário
for. Há no amor uma espécie de encantamento que me leva a crer que somos
lapidados generosamente pela vida.
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